Um livro que celebra 90 anos de memórias, sabores e laços familiares

Em 2025, Maria Luiza Junqueira Donadelli completou 90 anos. Para celebrar quase um século de vida temperado por afeto, tradição e generosidade, seu marido Jorge, junto com os filhos, Sabina, Carol e Jorgito, tiveram a linda iniciativa de eternizar as receitas e lembranças de uma vida inteira no livro “Com açúcar, com afeto e uma pitada de sal – A cozinha de Maria Luiza: uma história de comida e amor em forno brando”.

Maria Luiza partiu antes de ver o livro pronto, mas sua presença está em cada página, em cada receita, em cada memória aqui registrada. O legado de amor que ela construiu ao longo de décadas não apenas permanece vivo em sua família — que esbanja carinho e união entre si e com os amigos que têm o prazer de conviver com cada um deles — mas agora se perpetua nestas páginas, para que as futuras gerações também possam sentir o abraço afetuoso de sua cozinha.

Organizado por Sabina Donadelli, a filha que se descobriu na Nutrição, a obra é uma homenagem à mãe que fez da cozinha um espaço sagrado de convivência, acolhimento e amor. Mais do que um livro de receitas, é um registro histórico e sensorial sobre a culinária afetiva que moldou a identidade de uma família e parte da cultura gastronômica da cidade de Franca (SP).

Entre as páginas, o leitor se depara com receitas testadas, precisas e cheias de memória, organizadas em capítulos que valorizam tanto os salgados tradicionais, quanto os doces que marcaram gerações e os pães preparados em rituais familiares de fim de semana.

Nos salgados, sobressaem preparos que equilibram técnica e simplicidade, como a torta de palmito cremosa, o suflê de queijo leve e aerado, as almôndegas Dona Ambrosina, o arroz de forno cerimonial e o cuscuz à moda da casa, feito com metade de farinha de milho e metade de mandioca — um toque que traduz o paladar mineiro-paulista da família. As receitas foram cuidadosamente revisadas por Sabina, que preservou o sabor original enquanto modernizou unidades de medida e proporções, tornando-as acessíveis a cozinheiros contemporâneos sem perder a alma da tradição.

Na seção de doces, o livro é um verdadeiro compêndio da confeitaria afetiva brasileira: o bolo de nozes da Iná, a torta de banana com canela, o pudim de doce de leite com queijo mineiro, os sequilhos de coco da Dona Bilica, o Babá ao Rum — ou Babá Jamaica, e muitas outras receitas de texturas, aromas e histórias. Cada sobremesa é acompanhada por notas de curadoria que resgatam técnicas clássicas, o ponto de calda, o equilíbrio entre açúcar e textura, o banho-maria preciso, e revelam a sabedoria artesanal das mulheres que transformam simples ingredientes em herança de sabor.

Mas é no capítulo dedicado aos pães que a obra atinge seu ápice simbólico. “Fazer pão em casa era um ritual de fim de semana repleto de gestos, risadas e paciência”, recorda Sabina. As receitas incluem o pão sírio da Laurice, o pão de linguiça da Dona Elza e o lendário pão de queijo da família, uma tradição centenária passada da Dindinha para a avó Blandina e, depois, para Maria Luiza. “Dizem que só eu sei fazer igual, mas quem herdou o dom foi minha irmã”, conta Sabina, com ternura. O pão de queijo, nesse contexto, transcende o prato — é símbolo de continuidade, afeto e união familiar.

Com prefácio da jornalista e escritora Sônia Machiavelli e segundo prefácio de José Luiz Alvim Borges, presidente da Academia Brasileira de Gastronomia, além de textos assinados por seu marido Jorge, Jorgito, Rodrigo, Emerson Drigo e Carol, o livro também presta tributo às amigas e parentes cujas receitas ganharam nome e eternidade.

Como destaca José Luiz Alvim Borges em seu prefácio: “Assim como o DNA mitocondrial, que somente é transmitido por mulheres, este saber culinário gerado e transmitido por nossas mães, avós e tias é precioso, assim como a iniciativa de Sabina de registrá-lo, garantindo a preservação e a continuidade desse patrimônio cultural, permitindo que as futuras gerações tenham acesso a esse legado tão significativo.”

NOTA TÉCNICA DA CURADORA

Segundo Sabina Donadelli, o processo de organização das receitas foi também um exercício de tradução entre gerações. “Os cadernos da mamãe tinham medidas como ‘um pires de manteiga’ ou ‘uma lata de leite’. Fiz questão de converter tudo para medidas padronizadas, sem perder a essência.

Mas tomei o maior cuidado para não deixar a nutricionista escapar para cima das receitas da minha mãe. As receitas que entraram no livro são exatamente como ela fazia — não substituí ingredientes, não alterei nada além das medidas para que pudessem ser reproduzidas com precisão. A cozinha de Maria Luiza é o retrato perfeito da harmonia entre sabor, nutrição e afeto, uma lição que continua viva e inspiradora.

“Com açúcar, com afeto e uma pitada de sal” é, enfim, uma obra sobre o poder de permanecer — nas receitas, nas lembranças e nas pessoas que se tornam eternas por aquilo que nutrem. Um livro que mistura rigor culinário, poesia e memória, e que nos lembra que cozinhar, como Maria Luiza sempre ensinou, é um jeito silencioso e saboroso de dizer: ‘eu amo você’.

https://www.sabinadonadelli.com.br
@sabinadonadelli

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