No Brasil,  as mulheres são 51% dos profissionais registrados na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),  porém elas continuam sub-representadas em cargos de liderança e enfrentam desafios desproporcionais no exercício da profissão. Nesse cenário, programas de mentoria jurídica têm ganhado força como ferramenta de transformação de carreira, especialmente no setor imobiliário, historicamente dominado por estruturas tradicionais e hierarquizadas.

É o caso da iniciativa liderada por Siglia Azevedo, especialista em direito imobiliário, mestre em sistemas de resolução de conflitos e doutoranda em direito civil. Atuando há mais de 15 anos no mercado jurídico, Siglia coordena uma mentoria que já capacitou mais de 2000 advogadas em transição de carreira, com foco na estruturação de negócios jurídicos próprios, reposicionamento estratégico e desenvolvimento de autoridade profissional.

A advogada possui um olhar crítico desenvolvido ao longo de sua carreira que permite uma orientação focada em estruturação mais assertiva “Muitas mulheres chegam ao mercado com excelente formação técnica, mas sem preparo para gerir um escritório. A maioria não sabe como precificar serviços, atrair clientes ou se posicionar como autoridade na sua área. Isso gera frustração e abandono precoce da advocacia”, explica a advogada.

A proposta nasceu da escuta de alunas e colegas que manifestaram exaustão diante do modelo tradicional da advocacia, marcado por jornadas exaustivas, metas rígidas e baixa valorização da autonomia. “Há um cansaço crescente com o formato hierarquizado e competitivo. Advogadas que passaram anos operando em contencioso começam a buscar alternativas mais alinhadas com seus valores, tempo de vida e propósito profissional”, afirma.

O programa de mentoria é dividido em três eixos principais que são o reposicionamento de imagem e autoridade; estruturação dos processos internos do escritório; e desenvolvimento de habilidades comerciais e de comunicação. A proposta vai além da técnica, incluindo debates sobre precificação, atendimento ao cliente, visibilidade digital e nichos de especialização. “A faculdade forma advogadas para o fórum, não para o mercado”, aponta Siglia.  Para ela a  mentoria preenche essa lacuna e ajuda a transformar o conhecimento jurídico em serviço valorizado.

Os resultados têm se traduzido em trajetórias mais sustentáveis e prósperas. Segundo a mentora, há casos de advogadas que deixaram cargos estagnados para abrir consultorias próprias e viram seus rendimentos crescerem até 80% em um ano. Outros exemplos envolvem especialização em nichos como regularização imobiliária, direito condominial e adjudicação extrajudicial , segmentos em alta no setor.

Outro diferencial está no incentivo à criação de redes de apoio. Além das aulas e sessões individuais, o programa promove encontros entre mulheres de diferentes regiões do país. “A sororidade jurídica é um ativo poderoso. Quando uma mulher vê outra vencendo na advocacia com equilíbrio e estratégia, ela entende que também é possível para ela”, afirma Siglia.

Para Siglia, a transformação que a mentoria proporciona vai além do aspecto financeiro. “É sobre resgatar o protagonismo na própria carreira. A mentoria ensina a advogada a enxergar sua prática como um negócio, com metas, estrutura e diferenciação no mercado”, conclui a advogada.
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