O especialista em psicologia pré e perinatal Manoel Augusto Bissaco explica como o nascimento antes do tempo ideal pode deixar marcas sutis — e o que pais e cuidadores podem fazer para fortalecer o vínculo e o desenvolvimento emocional do bebê

O Dia Mundial da Prematuridade, celebrado em 17 de novembro, é um lembrete sobre os desafios enfrentados por bebês que chegam ao mundo antes da hora. Além dos cuidados médicos, há um aspecto muitas vezes esquecido: o impacto emocional e sensorial dessa chegada precoce.

Segundo o psicólogo Manoel Augusto Bissaco, especialista em psicologia pré e perinatal, o nascimento antecipado pode ser vivenciado pelo bebê como uma experiência abrupta, marcada por separações, ruídos intensos e ausência do contato constante com a mãe — elementos que influenciam o modo como o sistema nervoso e o vínculo afetivo se desenvolvem.

A seguir, o especialista lista sete pontos essenciais sobre os possíveis traumas da prematuridade e como amenizá-los:

1. O nascimento precoce interrompe o ciclo natural de segurança

O bebê prematuro sai do útero antes de concluir seu amadurecimento fisiológico e emocional. “O ambiente uterino é o primeiro espaço de segurança. Quando essa etapa é interrompida, o bebê pode carregar uma memória de insegurança e alerta”, explica Bissaco.

2. O excesso de estímulos pode gerar sobrecarga sensorial

Em unidades neonatais, o bebê é exposto a luzes, sons e procedimentos invasivos. Essas experiências, segundo o psicólogo, podem deixar marcas no sistema nervoso, tornando a criança mais sensível a ruídos, toques e mudanças de ambiente.

3. A separação precoce da mãe interfere no vínculo

A internação do bebê em incubadoras impede o contato pele a pele constante, essencial para o apego seguro. “O toque, o cheiro e o som da voz da mãe são reguladores emocionais. A ausência deles pode gerar dificuldades futuras de vínculo”, afirma o especialista.

4. O corpo guarda memórias mesmo sem consciência

Bissaco lembra que “a memória corporal se forma antes da memória cognitiva”. Ou seja, experiências de dor, frio ou solidão vividas na UTI neonatal podem se traduzir mais tarde em padrões de ansiedade, hipervigilância ou dificuldade de relaxar.

5. O papel dos pais é essencial na reparação emocional

Mesmo que o início seja desafiador, o contato afetuoso, o colo, o olhar e o tempo de qualidade têm poder reparador. “O corpo do bebê aprende novamente a confiar no mundo quando se sente acolhido e protegido por seus cuidadores”, reforça o psicólogo.

6. O toque e o olhar têm função terapêutica

O toque suave, a amamentação e o contato visual são estímulos que ajudam o bebê a reorganizar seu sistema nervoso. “Essas experiências repetidas transmitem segurança e ajudam o cérebro a sair do estado de alerta para o estado de calma”, explica Bissaco.

7. A escuta terapêutica pode ajudar na integração das experiências

Em alguns casos, o acompanhamento psicológico pré e perinatal auxilia tanto os pais quanto a criança a ressignificar o início difícil. “A terapia não apaga o passado, mas ajuda a transformá-lo em um ponto de força”, afirma o especialista.

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